A União Nacional dos Estudantes deu início ao seu 59º Congresso, na Universidade de Brasília, na noite desta quarta-feira 12. O evento de abertura contou com o ministro da Justiça, Flávio Dino, e o ministro do Supremo Tribunal Federal Luís Roberto Barroso, além da presidenta nacional do PT, Gleisi Hoffmann.
O congresso é realizado a cada dois anos com o objetivo de eleger os seus dirigentes, entre eles o presidente. Os organizadores estimam a presença de 10 mil estudantes. Nesta quinta-feira 13, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também fará uma participação. O evento vai até 16 de julho.
Em seu discurso, Dino pregou a favor da regulação das redes sociais e foi ovacionado. Ao fim de sua participação, ostentou popularidade ao se entregar à multidão e tirar fotos com jovens. Em diversos momentos, estudantes demonstraram almejar o ex-governador como ministro do STF.
Já Barroso e Gleisi foram interrompidos por protestos de alguns grupos.
O ministro da Corte foi alvo de críticas de jovens que estenderam uma faixa com os dizeres: “Barroso, inimigo da enfermagem”. Em setembro do ano passado, o magistrado suspendeu a lei que criou o piso salarial para a categoria por risco de demissão em massa e sobrecarga na rede. Em maio, ele revogou a suspensão.
Ainda assim, ele mencionou críticas à ditadura de 1964 e pregou contra a intolerância.
Além disso, apontou para aqueles que gritavam e fez uma comparação ao bolsonarismo: “Quem tem argumentos, quem tem razão, quem tem a história do seu lado, coloca argumentos na mesa. Não xinga e não grita. Esse é o passado recente do qual nós estamos tentando nos livrar”.
Já a presidenta do PT discursou em meio a manifestações contra o arcabouço fiscal.
Bruna Brelaz, presidenta da UNE, chegou a emitir uma nota de repúdio contra o que chamou de “atitude antidemocrática de grupos minoritários”.
Volta de Lula pode reacender disputas internas
O congresso da UNE tende a reativar divergências que caracterizaram as disputas internas durante os governos petistas. Conforme mostrou CartaCapital, as forças políticas da entidade haviam se aproximado no governo de Jair Bolsonaro (PL), mas, com a volta de Lula, o cenário deve ser redesenhado.
Isso porque forças críticas ao petismo fazem oposição às políticas econômicas adotadas atualmente, sobretudo ao arcabouço fiscal, que deve substituir o teto de gastos de Michel Temer (MDB).
Além disso, esses grupos se queixam de suposta postura governista dos principais dirigentes da UNE.
A UNE é dividida em dois espectros políticos: o “campo da majoritária”, que abriga forças mais próximas ao petismo, como as juventudes do PT e do PCdoB, e a “oposição unificada”, a antiga “oposição de esquerda”, que aglutina juventudes de partidos como o PSOL e o PCB.
Tradicional militância estudantil do PCdoB, a União da Juventude Socialista é a principal força política da entidade. A organização preside a UNE há cerca de 30 anos e deve ser reconduzida pela 18ª vez ao cargo neste ano. O favoritismo recai sobre a pernambucana Manuella Mirella, diretora de comunicação.
Não é à toa que Dino tenha sido convidado: apesar de estar no PSB, o ministro teve reconhecido percurso político no PCdoB. Ao subir no palanque, inclusive, Dino cumprimentou “todo mundo que apoia a diretoria e a corrente majoritária da UNE”. Em seguida, saudou “os companheiros que são oposição”.
O deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP), também presente, presidiu a UNE pela UJS, em 1995.
Na eleição, os estudantes preenchem 17 cargos da diretoria-executiva e 85 funções subordinadas. A votação ocorre por meio dos delegados, eleitos em instituições de ensino de todo o País.
Em geral, as forças políticas mais bem sucedidas nas eleições gerais são as que mais levam delegados para o Congresso. Ao todo, são esperados sete mil delegados no evento deste ano. Espera-se que a UJS, por geralmente eleger mais delegados, obtenha a maior parte dos cargos.
Será o primeiro congresso após a pandemia. Durante a crise sanitária, a entidade organizou um congresso extraordinário e virtual, com regras excepcionais para a distribuição dos cargos naquele período.
Também será o primeiro encontro nacional após os quatro anos de Bolsonaro, quando a UNE foi alvo do governo de forma ostensiva. Em 2019, a gestão federal lançou uma carteira gratuita, em uma tentativa de boicotar a entidade. À época, disse que a iniciativa coibiria a “promoção do socialismo”.
A ideia era atingir uma das principais formas de financiamento da UNE, a emissão das carteirinhas estudantis, cuja taxa é de 40 reais, mais o serviço de frete. O documento permite que estudantes tenham acesso ao benefício da meia entrada em estabelecimentos culturais.